Cirurgia Plástica: Muito Além da Estética
Quando se pensa em cirurgia plástica, logo vêm à cabeça rejuvenescimento facial e retirada da insistente barriguinha. Essas são as famosas e amplamente realizadas cirurgias estéticas.
O que pouca gente lembra é que uma plástica também pode ser reparadora, ou seja, corrigir certos efeitos de acidentes ou de doenças que tenham modificado de alguma forma o corpo da pessoa.
Há motivo para ser tão comum a associação entre plástica e vaidade: a grande maioria dos procedimentos (73%) é estética, segundo pesquisa de 2009 encomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica ao instituto Datafolha. O estudo revela ainda que, anualmente, são feitas no Brasil 629 mil cirurgias nessa área.
As intervenções estéticas mais realizadas são para aumento da mama, redução do abdômen e lipoaspiração. Já no rol das reparadoras, está no topo do ranking a extração de tumor de pele, seguida de operações em decorrência de acidentes urbanos, domésticos, defeitos congênitos e queimaduras. “Em qualquer lugar do mundo a cirurgia reparadora mais comum é a de retirada de tumores de pele, excetuando-se zonas de guerra”, confirma o Dr. Eduardo Fakiani, cirurgião plástico dos hospitais Albert Einstein e São Luiz, de São Paulo.
As cirurgias reparadoras de maior complexidade, segundo ele, são as craniofaciais (realizadas quando há uma série de fraturas de face e quando os ossos precisam ser reposicionados ou reconstruídos) e as que envolvem reconstrução de membros (quando, por exemplo, perde-se parte do músculo ou da pele da perna e a correção tem de ser feita tirando-se tecido de outra região e transplantando para o local afetado).
O caso da designer Eliane Jung, de 42 anos, foi deste último tipo. Ela perdeu parte de uma falange (osso) do dedo anelar da mão direita ao apartar uma briga de cachorros, no ano passado. A cirurgia para recuperar o dedo ocorreu em 31 de agosto, e ela ainda está se adaptando à nova realidade. “Meu dedo ficou menor, minha unha não é mais como era. E ainda não tenho tato na ponta do dedo”, conta.
Para conviver com as mudanças e um dedo diferente, nos últimos meses Eliane tem adotado pequenos truques – de unha postiça até curativos com caricaturas de desenhos animados e do estilista Alexandre Herchcovitch, passando por tipoia de lenços de seda costurados. Bem-humorada, a designer explica que isso se deve também à importância de estar sempre na moda.
Atitudes como a de Eliane são comuns, explica Fakiani. “Há grande necessidade de recuperação da autoestima”, atesta. Mas é bom ter em mente que a reparação nem sempre faz a parte do corpo ficar igual ao que era antes, ressalta o cirurgião.
Os riscos de complicações inerentes à cirurgia ou à anestesia são quase mínimos. “Temos visto uma melhora dos instrumentais cirúrgicos ao longo do tempo que, aliada ao aumento da segurança na anestesia, ao uso de laser nos procedimentos, a uma maior qualidade hospitalar e à troca enorme de informações em congressos e periódicos, leva a resultados melhores”, garante o médico.
A complexidade de alguns procedimentos e a valorização da autoestima fazem com que o preço dessas cirurgias seja elevado. “Uma reconstrução de mama, em um bom hospital, sai por cerca de R$ 45 mil, e cirurgias mais complexas podem custar bem mais”, pontua Fakiani. “Dependendo da necessidade de internação em UTI, tempo de estadia no centro médico e número de cirurgias, como no caso de queimaduras, o valor pode passar de R$ 100 mil”, alerta.
Aqui há outra diferença importante entre as estéticas e as corretivas. Boa parte destas é paga pelos planos de saúde – incluindo redução de mama para correção de coluna ou reconstrução após tratamento contra o câncer de mama. Afinal, o que está em jogo nos procedimentos reparadores vai muito além da vaidade. Traduz, em muitos casos, um novo sentido de vida